domingo, 8 de agosto de 2010

Para passar no vestibular - História

Primeiro de tudo,o que a gente chama de História não é apenas uma sucessão de fatos, isto é consenso entre os historiadores. Aliás, esse consenso é metade do problema: todos concordam sobre o que a História não é, mas quando a questão é o que exatamente é a História, existe pouca concordância. Espero que você entenda a diferença.

A outra parte do problema é que nossa meta aqui é a preparação para um concurso público. O objetivo do concurso é selecionar os mais qualificados, baseado em critérios objetivos. Em um Estado democrático de direito, a banca do concurso deve respeitar nossa liberdade de opinião. Isso significa que a banca não pode considerar uma opinião certa ou errada. Se a resposta é X, mas o assunto admite uma segunda opinião, a questão tem que ser anulada. Por isso, as respostas têm que ser baseadas em critérios objetivos, ou seja, elas precisam ser comprováveis com base em dados concretos (materiais) e através do raciocínio lógico.

O que forma a objetividade de um tema não é o que diz o povo nas ruas, mas o que dizem os especialistas, de preferência os reconhecidos institucionalmente (os diplomados). E como, mesmo entre os especialistas, há muitas opiniões diferentes sobre um mesmo assunto, a questão da prova não pode dar muita margem a interpretação – porque o candidato tem liberdade de opinião, que lhe dá o direito de concordar com tal ou qual interpretação. Na verdade, não sendo especialista em História, o candidato nem tem obrigação de conhecer todas as vertentes interpretativas sobre o assunto. Por isso, a banca só pode cobrar na prova aquilo que é consenso entre os historiadores: ou seja, o que não é história.

Em outras palavras, os especialistas concordam que a História é mais do que decorar datas e fatos, que a História é uma interpretação sobre datas e fatos, mas como as interpretações são divergentes, a nossa única informação segura são datas e fatos. E algumas poucas interpretações que são consenso entre os especialistas.

São muitas datas, muitos fatos, numa realidade extremamente complexa. Para simplificar, tentamos fazer com que sigam um encadeamento lógico. Do tipo: “três fatores que provocaram o fato tal”, “três conseqüências do fato tal”.

Todos criticam a História decoreba, aquela em que você precisa decorar uma sucessão de datas e fatos. Nós historiadores a chamamos de História tradicional, ou de História positivista. Muito diferente da História dos historiadores. Mas o que cai no vestibular é justamente esta História tradicional, apenas um pouquinho melhorada. Em lugar de decorar os nomes e datas da História tradicional, precisamos conhecer os processos sociais, dos quais os fatos parecem conseqüência lógica e necessária.

Por exemplo, em vez de ensinar que Luís XVI demitiu Necker e precipitou uma rebelião popular na França em 1789, preferimos dizer que a economia francesa estava em crise, o que precipitou uma rebelião popular na França, em 1789. Na verdade, nenhum dos dois fatos tem mais valor explicativo do que o outro, depende apenas do ponto de vista de quem explica. Mas pelas características do concurso, preferimos a segunda explicação, por ser mais generalizante.

Como então decorar este monte de coisas? Agrupando-as. Assim, fica um número menor de informações para se trabalhar. Depois, você vai esmiuçando cada grupo, se embrenhando pela hierarquia dos temas, até que um assunto te leve a outro próximo. Pegando um de cada vez, fica mais fácil memorizar.

Por fim, existem duas categorias de “coisas” que é preciso saber: fatos e conceitos. Na minha opinião, os conceitos são mais agradáveis de se estudar, porque são mais abstratos e aplicáveis a diferentes situações. Dão à História uma aparência lógica, deixam-na fácil de entender. Mas é preciso ter em mente que os conceitos são construídos com base em fatos. Se não conhecemos os fatos, nossos conceitos não têm nenhum valor. E o conhecimento de novos fatos nos permite contestar os conceitos, pô-los à prova e aprimorá-los.

Portanto, atenham-se ao que a História tem de objetivo. Há certos temas que são apaixonantes, outros são revoltantes, muitos, intrigantes, mas não há espaço em uma prova de “marcar xis” para debater estes assuntos.

Um comentário:

  1. Gostei do texto. Parece-me, realmente, que explicações mais generalizantes são preferíveis e dão maior possibilidade de acerto no vestibular.

    Não sei ao certo como estão os vestibulares hoje. Mas lembro que quando prestei tal exame para a UFF - há um milhão de anos - havia uma fase "múltipla escolha" e outra discursiva. Para a pessoa passar na discursiva, é essencial saber escrever bem - e isso só se consegue com muito treino: escrevendo redações, crônicas, blogs e e-mails (respeitando as normas da Língua Portuguesa, sem os vícios do "internetês").

    Para acertar as questões de "múltipla escolha", além de estudar muito, o indivíduo tem que adquirir bons hábitos de leitura que o acostumem a interpretar textos corretamente. Pois existe muita gente que erra questões apenas por não ter entendido o que era perguntado. Isso é triste.

    (www.expressaoliberta.blogspot.com)

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